Baixa autoestima pode estar ligada a relacionamentos abusivos
É muito comum encontrarmos associações entre relacionamento abusivo e baixa auto estima. Uma pessoa que não possui muita segurança, atitude e confiança em si, muitas vezes acaba se relacionando com pessoas que oferecem aquilo que lhe falta. Se por um lado pode parecer um conforto e até mesmo a solução, esta relação também pode evidenciar ainda mais estas faltas, facilitando significativamente a possibilidade da relação vir a se tornar abusiva.
Uma pessoa com auto estima fragilizada é aquela que não consegue identificar o seu real valor. Geralmente apresenta alto nível de insatisfação, seja com sua própria aparência, sua capacidade intelectual ou até mesmo com suas próprias escolhas – sejam do passado ou atuais. Tendem a possuir uma autocrítica severa, focalizando sempre as falas, eros e faltas como parte do processo de auto desvalorização. Podem apresentar dificuldade em identificar suas vitórias pessoais, uma vez que esteja presa nas coisas que poderia ter feito a mais ou de forma diferente, muitas vezes acreditando que o outro é mais valioso ou mais capaz que ela mesma. Não raras vezes, costumam apresentar mecanismos de defesa bastante desenvolvidos, como os de projeção, negação ou distorção.
Como identificar a autoestima fragilizada?
Existem diversas maneiras de uma autoestima se apresentar fragilizada. Porém, independente de como a fragilidade se manifesta, o ponto central é que envolve uma angústia extrema, provinda da falta do amparo existencial. Por isso, em sua grande maioria, seu discurso e seus sintomas apresentam grandes doses de desmerecimento e ao mesmo tempo a esperança de que alguém o ajude e o encontre, o resgate. Estão muitas vezes à espera (ainda que inconsciente) de um olhar acolhedor, que os reconheça e acalma a angustia. E é justamente desta forma que acabam se expondo e se colocando em situação de vulnerabilidade e dependência, fazendo com que o outro tenha poder sobre ele.
Apesar da face quieta e escondida apresentar sintomas e reações mais comuns e, por conta disso, ser mais facilmente identificada como autoestima frágil, é preciso compreender que o lado aparentemente confiante também pode expressar, muitas vezes, sua fragilidade, através de atitudes disfarçadas como sabedoria, força e coragem. Através dessa fantasia num discurso que mistura culpa e salvação, responsabilidade e ajuda, a pessoa com baixa autoestima pode acabar se vinculando a alguém inseguro e vitimizado, e com este outro pode acabar tendo uma relação abusiva, uma história cheia de culpa e vitimização.
A relação entre uma pessoa de autoestima frágil e outra que acredita ser dominante, possuidor do poder e da verdade, pode ser tóxica e até mesmo perigosa. Em relações como esta, ao mesmo tempo que cada um provoca no outro seus medos e faltas, também encontra no outro aquilo que precisa, formando assim um ciclo de dependência emocional.
Um problema mais profundo
O fato de se estar em relação abusiva tende a ser um sinal de que a autoestima da pessoa estava fragilizada antes mesmo da relação ser concebida, ainda que não se soubesse. Isso acontece de forma muito mais frequente do que imaginamos. Herdamos uma forte cultura histórica e social que legitima, compreende e estimula diversos abusos e em todos os meios – sendo eles dentro de relações amorosas, familiares ou profissionais – mesmo que mudanças ocorram a cada época, continuamos reproduzindo esses padrões sem nos darmos conta.
O costume normativo acaba sendo um grande produtor de fragilidades na autoestima pois limitam o ser, o sentir e o existir por si mesmo. Compreender e aceitar determinados contextos por considerar que eles são normais, determina e obriga muitas pessoas a se submeterem conforme as regras sociais, deixando de se perceber, de se escutar e se respeitar. Este cenário também contribui para que a outra ponta do ciclo abusador tenha seu ego reforçado, acreditando que sabem mais, são mais e que podem mais, crenças estas autorizadas e estimuladas socialmente.
Procurando ajuda
Como falamos anteriormente, não há como prever exatamente em que condições um relacionamento abusivo começa a se construir, mas temos fortes indícios que precisam ser observados sempre. Não é normal sentir-se impotente, intimidado ou desvalorizado.
É fundamental trabalharmos a autoestima individual, como possibilidade de ressignificar seu próprio valor, consigo e com o mundo. Busque ajuda, fortaleça suas vulnerabilidades. Somente desta maneira será possível reconstruir-se de forma sólida e romper com o ciclo autodestrutivo, fazendo com que o amor próprio e a autoestima sejam restabelecidos.