A utilidade das preocupações

Administrar as preocupações, sem obedecê-las

Você possivelmente é mais paradoxal do que imagina quando o assunto é preocupação. Se por um lado você sabe que as suas preocupações estão desgastando as relações e arruinando suas chances de aproveitar a vida, por outro, você acredita (ainda que de forma inconsciente) que as elas podem lhe ajudar a resolver problemas.

Nossas preocupações têm passagem livre em nossa mente, e aparecem e desaparecem quando querem. E vai ser assim sempre, não tem jeito. Nosso desafio é conseguir administrá-las, sem obedecê-las. Ainda que elas apareçam, não precisamos fazer disso um problema, nem mesmo lutar contra, só precisamos nos afastar.

Se você sofre de ansiedade e não consegue deixar de se preocupar com situações futuras que estão além do seu controle, essa técnica pode ser útil pra você. Escreva em uma lista as vantagens de se preocupar com algo (por exemplo “preocupação me ajuda a compreender as coisas” ou “se eu não me preocupo, eu não faço nada”). Ver as vantagens das preocupações por escrito podem alterar a forma como você se sente em relação a elas. Elas podem até parecer meio bobas, o que é uma coisa boa.
Fazer uma lista com os prós e contras em se ter preocupações pode ser útil. Escreva todas as vantagens sobre a preocupação que puder lembrar (por exemplo “preocupação me ajuda a compreender as coisas” ou “se eu não me preocupo, eu não faço nada”). Ver as vantagens das preocupações por escrito podem alterar a forma como você se sente em relação a elas. Elas podem até parecer meio bobas, o que é uma coisa boa. Em sequência, faça outra lista dos incômodos e pesos que as preocupações podem trazer à sua vida. Não será difícil pensar neles se você for honesto consigo. Ao terminar as duas listas, observe-as e pense se consegue encontrar motivações suficientes para deixar de se preocupar.

Construindo a sua motivação

Para ficar mais clara a proposta deste exercício, vou dar um exemplo. Certa vez, uma paciente me disse que precisava se preocupar em ser uma boa mãe para garantir que nada de mal pudesse acontecer com seus filhos. Ela também acreditava que, se preocupando com sua capacidade de fazer suas tarefas em seu emprego e prevendo todas as coisas que poderiam dar errado, ela poderia impedir que coisas ruins acontecessem. Nosso trabalho foi questionar se o fato de preocupar-se com as coisas poderia realmente ser a melhor estratégia a ser adotada.
Sugeri que ela fizesse uma lista do que poderia fazer. Por exemplo, ela poderia se certificar de que alguém levasse seus filhos ao colégio, mas embora isso não garantisse, com certeza absoluta, que alguma emergência poderia acontecer. Por isso, a alternativa que ela tinha era se preocupar com coisas que ela não podia controlar ou desistir do controle e da certeza de como eles estariam. Sugeri então que ela elaborasse uma lista com as coisas que deveriam ser feitas para diminuir a probabilidade do cenário que ela tinha medo. Em um dos itens da lista, ela definiu que passaria seu telefone para a pessoa que acompanhasse as crianças ao colégio. Isso não garantiria a total segurança delas, mas diminuiria a necessidade da preocupação em si, pois sabendo que se algo acontecesse ela seria avisada, a preocupação se tornaria inútil. Preocupar-se em fazer as coisas é diferente de fazer as coisas de fato. Se fizermos as coisas que são possíveis, teremos menos com o que nos preocupar. 

Preocupação é diferente de ação
Lembro-me de ter passado por experiência parecida recentemente. Eu havia aceito o convite para escrever um artigo para a clínica em que trabalho. Percebi que eu estava procrastinando a entrega do artigo e, então, me preocupando com o prazo. No dia seguinte, recebi uma mensagem da responsável: “Manuella, você já terminou o artigo?”. Fiquei muito preocupada com isso. Foi então que decidi fazer duas listas, uma com as coisas que eu tinha que fazer naquele dia e outra com as coisas que de fato eu poderia fazer naquele dia. Decidi então fazer o esqueleto do artigo e comecei  a me sentir melhor, e aos poucos, minha motivação para escrevê-lo também foi aumentando – até que terminei. Percebi que não foi a minha preocupação que havia me motivado, mas sim a ação. É muito importante que tenhamos isso em mente: a ação é diferente de preocupação. Você não deve se preocupe, porque isso não é eficiente e nem contribui com nada. O que você deve é agir!

Reavaliando suas preocupações

No primeiro momento, você poderá achar difícil fazer isso. Essa impressão surge porque você está focado na meta errada. Muitas pessoas dizem: “Preciso me livrar das preocupações”. É de se esperar que elas estejam sendo pessimistas, pois livrar-se totalmente das preocupações é uma tarefa impossível. Você não vai conseguir acabar com todas elas da sua vida, e se esse for o seu objetivo, certamente você irá fracassar. O objetivo não é eliminá-las, mas continuar funcionando apesar delas.
As nossas preocupações têm passagem livre em nossa mente, elas aparecem e desaparecem quando querem. E vai ser assim sempre, não tem jeito. Nosso desafio é conseguir administrá-las, sem obedecê-las. Ainda que as preocupações apareçam, não precisamos fazer disso um problema nem mesmo lutar contra elas, só precisamos nos afastar.
Agora que você sabe como reavaliar suas preocupações, vamos praticar? Ao lado coloquei um modelo que pode ajudá-lo na montagem das listas – embora você não precise se prender a este material para realizar a atividade. Bom trabalho! 💪